domingo, 3 de abril de 2011

Uma visão aristotélica sobre “Se7en”

Veyzon Campos Muniz [1]



O diretor David Fincher é conhecido por ter como característica marcante a preocupação com efeitos de som e luz casados com a exposição de seres humanos (e, por vezes, não humanos, como no caso de “Alien 3”), cujo comportamento e caráter são postos à prova diante de situações de tensão extrema, dando assim, aliado a uma edição perfeita, o timing de grande thriller a boa parte de suas películas. Em “Se7en” (New Line Cinema, EUA, 1995) esta marca do diretor não deixar de estar presente.
Destarte, fazendo uma análise filosófica dos protagonistas e do antagonista do filme, com base na leitura do Livro VII de “Ética a Nicômaco”, de Aristóteles, observa-se certas semelhanças de alguns dos perfis propostos na obra com os personagens do filme. Vamos à história.
Dois policiais, o jovem Detetive David Mills (Brad Pitt), em busca de ascensão na carreira policial, e o experiente Detetive William Somersett (Morgan Freeman), a uma semana da aposentadoria, são designados para conduzir a investigação de uma série de homicídios que vem acontecendo na cidade de Nova Iorque. Ambos acreditam que o responsável seja um serial killer que mata justificando-se na eliminação dos sete pecados capitais. Posteriormente, John Doe (Kevin Spacey), o responsável pelas mortes, se entrega, todavia, com seu “trabalho” ainda inacabado.
Mills é um exemplo perfeito do que Aristóteles chamaria de incontinente. Age visando objetivos e finalidades boas e racionais, porém, sem qualquer moderação e autocontrole (é excessivamente impetuoso). Ele pensa que a melhor forma de fazer o que faz é aquela, e está errado. Não é de todo mau, mas pelo hábito, acaba sendo.
Somersett é um homem incrédulo no mundo, sendo perceptível que a sua experiência e a sobreposição de sua vida profissional o tenha tornado assim. É bastante ponderado e preciso com as palavras e as atitudes. Age de forma mais agressiva quando é necessário. É continente, sabe como agir e se posicionar diante das situações extremadas pelas quais passa. Não é virtuoso, mas é racional.
John Doe, que em um primeiro momento poderia ser visto como um ser bestial, não o é. Afinal, não é sobre-humano e age com meticulosidade e inteligência. Em um segundo olhar, poderia se pensar que é um incontinente, pois tenta demonstrar constantemente sua racionalidade. Por certo age com consciência, mas não é motivado pela razão e sim pelo seu prazer. Sua argumentação não se sustenta e não pode se arrepender. Age com paixão e pelo apetite. É vicioso, nos termos de Aristóteles. 
Em síntese, mais do que uma oportunidade de reflexão filosófica, o filme “Se7ven” proporciona 128 minutos de muita tensão e emoções das mais diversas. Com um dos finais mais surpreendentes do cinema, vale a pena ser assistido (e revisto).  




[1] Veyzon Campos Muniz é bacharelando em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Coordenador Adjunto do CUIC (desde 2010).

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