terça-feira, 30 de novembro de 2010

Semana Cultural: tradição e ruptura políticas na Faculdade de Direito da UFRGS

Lucas do Nascimento[1]

De 17 a 20 de agosto de 2010 ocorreu a Semana Cultural da Faculdade de Direito da UFRGS: Tradição e Ruptura na Formação Política Brasileira, um evento organizado pelo Círculo Universitário de Integração e Cultura da UFRGS (CUIC/UFRGS) e pelo Centro Acadêmico André da Rocha (CAAR). Durante quatro noites, diversos temas foram abordados, dentre os quais: (1) história política da Faculdade de Direito da UFRGS; (2) figuras ilustres formadas pela Casa e sua trajetória na história do Brasil; (3) Machado de Assis e suas análises sobre o Império e República brasileiros; (4) Raymundo Faoro e sua vasta obra sobre o “estamento burocrático”; (5) Glauber Rocha, o Cinema Novo e o Golpe Militar de 1964; (6) possibilidades da democracia brasileira; (7) papel político do Juiz no Estado Democrático de Direito, dentre outros.
Neste pequeno texto, gostaria de ressaltar a relevância de tal evento para o enriquecimento de nosso meio universitário. Sendo esta a primeira semana cultural já realizada na Faculdade de Direito da UFRGS, cumpre incitar os demais colegas a darem continuidade ao evento, consolidando a ruptura política alcançada com sua realização e reforçando uma nova e profícua tradição na Casa: a de promover atividades interdisciplinares pertinentes a um refletir e atuar cidadãos, para a comunidade universitária e sociedade.
Como um dos organizadores, cabe escrever que a jornada foi longa e os meses de trabalho muitos. Penamos; passamos dias na frente do computador, manhãs e noites em reunião; nos locomovemos como adoidados; conversamos com muitas pessoas; criamos diversos contatos, algumas amizades; abrimos portas e demos primeiros passos para a (re)aproximação entre o Direito e os cursos de Graduação e Pós-Graduação em Letras, Ciência Política, Sociologia, Cinema, História e Filosofia; ressaltamos o valor de nossa Faculdade; relembramos a importância que outrora o cenário jurídico representava em termos de personalidades de atuação política regional e nacional; refletimos muito sobre teoria política e acerca das possibilidades da democracia brasileira; mas, mais importante do que tudo, criamos uma outra realidade e novas perspectivas para aqueles que ingressaram há pouco na Faculdade de Direito da UFRGS, conforme era nosso objetivo. Onde estamos? Qual o nosso papel nesse topos?
Queiramos ou não, mais do que falar de política, fizemos política. Quebramos muralhas de um castelo que seria inexpugnável, se não fosse a atuação e companheirismo de alunos protagonistas como o são os de Direito da UFRGS. Provocamos dores de cabeça, tiramos pessoas da passividade, inovamos, demos início a uma tradição, tratamos de revolução glauberiana ou faoriana, e vivemos uma. O estamento burocrático brasileiro vigora, e muito, no seio universitário, principalmente no meio jurídico e em uma Universidade Pública. Podemos ver e viver, dia a dia, o como esse estamento utiliza o Estado ou suas autarquias, no caso, a nossa Faculdade, para fins particulares. O que são concursos a portas fechadas? O que são professores que tratam a Faculdade como coisa sua? Aprendamos com Faoro, não de forma a nos satisfazermos com um mundo que se perfectibilizou, porque se compreendeu, mas de maneira a que, compreendendo a "mutabilidade constante" dos negócios humanos e conscientizando-nos do espaço e tempo em que vivemos, saibamos transformar o mundo, e fazer História.
Fizemos História, a Semana Cultural, que, maior do que qualquer grupo político da Faculdade, espero tenha tão longa vida quanto a do rei.



[1] Lucas do Nascimento é bacharelando em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Coordenador Geral do CUIC (desde 2009).

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